8.609, esse é o número até o dia de hoje, de pessoas, que ao serem contaminadas pela covid-19, não tiveram outra sorte, senão, desfalecer. Um numerário como esse, têm em sua potencialidade, a capacidade de deixar-nos perplexos e aturdidos, visto que, não estamos habituados a um massacre silencioso, e por isso, a cada morte, a sensação imediata seria a de apavoramento, de temor, por ter a oportunidade, de ser próximo a constar em uma lista tão ingrata. Mas com o decurso dos dias, e com o afadigamento natural da permanência excedente dentro dos lares, a sociedade, vai buscando atenuar o impacto inicial de informações tão funestas, e caminha para uma conformidade com esse quadro, tencionando quiçá, afugentar-se de uma atmosfera lúgubre, onde moribundos aos borbotões, e a falta de caixões, não causa-lhe espécie alguma. Um outro aspecto, que é exercido pela imprensa, é a modificação do foco momentâneo de atenção. Nos últimos dias, fomos ocupados pelos órgãos midiáticos, com a saída do ex-ministro Sergio Moro do governo bolsonarista, depois, com a trativa dispensada pelo presidente aos jornalista, e vimos ruir diante de nossos olhares, àquilo que deveria ser o primordial no notíciario, que o combate ao coronavírus e a suas precauções, mas que de repente, fora secundarizado, e um agravante nisso, a inexistência de uma interligação direta, da tragédia brasileira com o desserviço praticado, por aquele que deveria dar-nos o exemplo. Parece-me de que encobrir a Bolsonaro, seria a regra, em muitas das redações, e desta forma, imputasse a um possível fracasso na contenção do vírus, aos governadores estaduais, sabemos que muitos deles foram vagarosos nas medidas a serem engendradas, mas são eles, que ainda representam a inteligência moral, algo que está cada vez mais esporádico em território nacional. Somos uma sociedade emotiva, debulhamos em lágrimas por grandes expoentes, sejam eles políticos, músicos ou esportivas, já tivemos a oportunidade de presenciar prestito fúnebres memoráveis, o enterro de Getúlio Vargas, a morte de Juscelino Kubitschek, com o seu caixão sendo carregado pelos populares, a passagem do corpo de Tancredo Neves por três capitais, até achegar-se ao seu descanso eterno em São João del Rei, a cidade de São Paulo mobilizada para reverenciar Ayrton Senna, Os mamonas, e o mais recente, a queda, da aeronave da Chapecoense, quando em uma uniformidade extrema, escutou-se em uma voz eloquente, somos todos Chape, e agora? Será que somos capazes de marejarmos os nossos olhos por indivíduos anônimos, onde muitos estão sendo deslocados a valas comuns, sem o direito de serem reconhecidos como um cidadão, partícipe da construção desse país. Que as lágrimas possam decair dos olhos brasileiros, que cada moribundo não transforme-se apenas, em um frio código de identificação, mas que nasça em nossa consciência, um furor, que nos faça responsabilizar, por todos esses que partiram sem ao menos, terem o direito a tratamento correto, o presidente da república, que ao inverso do que apregoa o mundo todo, continua a ensejar uma volta ao passado, em um mundo que desintegrou-se. O Brasil não pode silenciar o choro dos que ainda tem um senso de humanidade.